A frieza que nos distancia do humano por José Neto de França
Precisamos reaprender a olhar o outro com compaixão, a substituir o julgamento pelo cuidado e o registro pelo gesto

Pe. José Neto de França 11/11/2025
Numa manhã comum, ao acessar uma das minhas redes sociais, fui surpreendido por uma notícia que me paralisou: um jovem que conheci há alguns anos havia tirado a própria vida, lançando-se de uma ponte. No topo do feed, entre fotos e frases banais, lá estava a tragédia, acompanhada de uma imagem forte — uma multidão se aglomerava no local, como se o sofrimento fosse um espetáculo aberto ao público.
Diante daquilo, um pensamento me atravessou: como é doloroso perceber que, em vez de estender a mão, muitos preferem levantar o celular. Filmam, comentam, divulgam… transformam o desespero de alguém em conteúdo efêmero, em busca de curtidas e atenção. Até mesmo alguns meios de comunicação, por vezes, ultrapassam o limite ético, convertendo a dor alheia em show. Há uma frieza inquietante nisso — um esquecimento de que, por trás de cada tragédia, existe uma vida interrompida, uma história que merecia escuta e respeito. Às vezes, por trás de um sorriso simples de quem sofre, há um grito de socorro, uma luta silenciosa pela vida.
A empatia parece ter se diluído em meio à pressa e à curiosidade. Precisamos reaprender a olhar o outro com compaixão, a substituir o julgamento pelo cuidado e o registro pelo gesto. A verdadeira humanidade não está em assistir ao sofrimento, mas em evitar que ele aconteça. Respeitar a dor do outro é também uma forma de amar — e o amor, quando sincero, jamais transforma o sofrimento em entretenimento.
Pe. José Neto de França
Sacerdote, Nutricionista Integrativo e Escritor
