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Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes

Um herói vivo das Alagoas

08/08/2022

Aprofundei meus conhecimentos sobre o contador de histórias, o poeta e trovador, enfim passeei um pouco por sua intelectualidade acurada e tive a honra e o prazer de lidar com uma figura humana ímpar. Matéria de autoria de Elias Fragoso, economista.

Um herói vivo das Alagoas


O que falar de uma unanimidade? Difícil, né? E se essa unanimidade houver - vivo - ascendida à categoria dos imortais? Ai, a tarefa fica ainda mais difícil. No entanto, vamos nos arriscar.

José Geraldo Wanderley Marques, conhecido de todos por Zé Geraldo, é uma dessas raras figuras que, ao conhecê-lo, automaticamente se gosta e logo o queremos no rol de amigos. Com um coração maior que a sua querida Santana do Ipanema, que a Maceió que o acolheu, estima e admira, que Alagoas de quem é defensor unilateral, o Zé é, de verdade, um espírito gigante do tamanho do Brasil!

Meu primeiro contato com ele lá pelos idos dos joviais anos 1970, ele iniciando sua luta em defesa do meio ambiente e contra a instalação da planta da industrial da Braskem dentro de Maceió, e eu recém-formado à distância admirando sua coragem e a competência dos seus argumentos para enfrentar o rolo compressor que se instalava em Alagoas contra nossa terra e em defesa de multinacionais que aqui se locupletam das nossas riquezas, nos leva a tragédias - reais e potenciais - ameaçando a vida de centena de milhares de pessoas, provocando mortes, suicídios e corrupção generalizada e muita mentira para enganar aos alagoanos.

Zé foi embora de Maceió e eu também. Ele para a Bahia e eu para Brasília. Eram os anos 1980. 40 anos depois, voltamos a nos \"encontrar\" ele há um tempo de volta para “as Alagoas” e eu ainda com um pé aqui e outro no mundo. Mas quis o destino que eu terminasse por organizar a coletânea Rasgando a Cortina de Silêncios - O lado B da exploração da Sal-Gema de Alagoas. Um tema que é a cara do Zé Geraldo.

Ao contatá-lo para falar da linha editorial de total independência técnica a ser seguida pelo livro, adoentado, ele me pediu uns dias para refletir, mas \"vi\" de cara seu entusiasmo com a proposta. Não lhe disse, mas não via sentido no trabalho se não pudéssemos contar com o seu brilhantismo técnico, acurácia intelectual e a coragem de sempre para expor, como só ele sabe fazer, verdades inconvenientes sobre os primórdios e coisas atuais da exploração do sal-gema de Maceió.  Ainda bem que ele aceitou com entusiasmo o desafio. E - registre-se - foi o primeiro a entregar e sem necessidade de revisão técnica - o seu brilhante artigo que abre a coletânea ora a venda na livraria Leitura, do Parque Shopping.

Durante o tempo de construção do livro (quase um ano), tive a alegria de conviver mais de perto com Zé Geraldo, essa figura especialíssima que Santana do Ipanema nos presenteou.

Aprofundei meus conhecimentos sobre o contador de histórias, o poeta e trovador, enfim passeei um pouco por sua intelectualidade acurada e tive a honra e o prazer de lidar com uma figura humana ímpar.

Um grande cientista, professor, mestre, doutor e pós-doutor laureado internacionalmente. Mas que, ao mesmo tempo, é uma pessoa tímida, simples, alegre, espirituosa. Do bem. Quase silenciosa quando todos ao seu redor adorariam ouvi-lo e beber do seu conhecimento, mas ao mesmo tempo, suave e incisivo, doando o seu melhor em suas festejadas palestras que a todos encantam pelo brilho, erudição e simplicidade com que os temas são colocados.

Zé Geraldo essa semana se tornou por unanimidade imortal da Academia Alagoana de Letras. Tardiamente. Aquela casa estaria muito melhor com ele por lá há mais tempo. Ao Zé cientista brilhante e agora imortal das letras, só resta um título que me atrevo a pespegar à sua biografia: herói das Alagoas!


Elias Fragoso, economista.


(Publicado no jornal Extra. Maceió, Alagoas, de 06 a 12 de agosto de 2022.)