Por João Marcelo Lyra - médico oftalmologista e genro de Antônio Azevedo Filho. Edição do dia 12/11/2021 do Jornal Gazeta de Alagoas
Azevedo, meu segundo pai, partiu. Plantou amor e colheu amor, carinho e admiração. Partiu, deixando um enorme vazio e um grande aperto em nossos corações. Nossas conversas que varavam a madrugada eram empolgantes, esclarecedoras e prazerosas, ao som do inesquecível Nelson Gonçalves. Como foi importante para mim tê-lo em minha vida de maneira tão próxima e intensa. Histórias de sua linda trajetória, desde Luiz Novo, seu avô autodidata e inovador, passando por Santana e sua infância, com jogo de bola na rua com os irmãos, bolos, doces e a educação e criação de Dona Beá; as imagens do folclore e folguedos em Santana e Olho D’água na sua mais tenra idade, a Faculdade de Engenharia da UFAL e a casa da Saldanha da Gama; a preocupação do seus pais senhor Antônio Azevedo e Dona Beá, indo todo mês com o carro para Maceió, cheio de produtos santanenses abastecer a casa e observar o andamento dos estudos. E os projetos e construções? Um capítulo à parte…Salmar (um dos primeiros edifícios de Alagoas com elevador panorâmico e um por andar), a construção do prédio da TV Gazeta, com a chegada dos equipamentos modernos; sua passagem pela USP, onde se especializou ainda mais, em cálculo estrutural, incluindo uma subespecialização em reservatórios e grandes estruturas.
Histórias que imaginei transportado por sua eloquência e capacidade de nos envolver no seu Universo único e vívido, cheio de sons, cores e com a narrativa única típica de um POETA ENGENHEIRO. Mais recentemente, tive o privilégio de acompanhá-lo numa viagem a Santana do Ipanema, sua amada terra natal. Foi um momento ímpar e inesquecível. Entre vários locais que visitamos, Azevedo me levou numa obra imponente que ele estava executando bem no coração da cidade. Tratava-se da reforma do casarão onde nasceu Breno Acioly (a cadeira que Azevedo ocupava na Academia Santanense de Letras). A proposta da reforma era ousada e desafiadora e foi encomendada pelo grupo J. Pinto. A ideia era construir um prédio moderno com várias salas e andares, mantendo a fachada centenária intacta (desafio plenamente aceito e concretizado por Azevedo). E a restauração do prédio da Associação Comercial? Uma verdadeira maravilha da engenharia entregue para o deleite e admiração dos Alagoanos (ele contratou um grupo de especialistas em restauração de Ouro Preto). Para se ter uma ideia do trabalho minucioso, a equipe achou a pintura original com os escritos da época encobertos por sete demãos de tinta.
Azevedo ainda trabalhou na recuperação de pontes, construção de escolas, trabalhou na Chesf e na CBTU, entres outras centenas de obras. Sua inteligência, sua capacidade de análise das situações de maneira clara e objetiva juntamente com os seus conselhos assertivos o tornaram uma referência para mim e para muitos. Quanto aprendi, quanto me diverti, quanto era precioso cada momento cheio de amizade, respeito, carinho e cumplicidade. Que saudade apertada…Azevedo, você plantou amor e colheu o que tem de mais especial na trajetória de um homem: uma família estruturada, com esposa, filhos, netos e genros que nutrem um amor e uma admiração enormes por você. Tenho a plena convicção que estás bem no outro plano. Sensação de missão cumprida neste orbe. Rezo e rogo a Deus que apazigue nossa dor. Azevedo, você vive em nós! Suas histórias, sua vida, seu exemplo estão e ficarão gravados em nossa mente, em nosso corpo e principalmente em nossa ALMA. Siga em paz com o coração puro e a alma forte! Saudade eterna!
Engenheiro e poeta, publicou o "O varredor de cinzas". Ocupou a cadeira nº 5, do patrono Breno Accioly.