Morre Hermeto Pascoal, o gênio alagoano que transformou o mundo em música
No exato momento da partida, seu grupo estava no palco, como ele gostaria: fazendo som e música

Reprodução do Portal 082 Notícias
Foi assim que a família e a equipe do músico anunciaram, neste sábado (13), a morte de Hermeto Pascoal, aos 89 anos, no Rio de Janeiro. O comunicado emocionou fãs em todo o Brasil e no exterior, reforçando a maneira única como o alagoano encarava a vida e a arte.
No exato momento da partida, seu grupo estava no palco, como ele gostaria: fazendo som e música.
A postagem ainda resgatou um dos versos de Hermeto, em que ele define a música como força vital:
“A música segura o mundo, enquanto a gente viver,
É a maior fonte sem fim, de alegria e prazer,
Toquem, cantem, minha gente, até o dia amanhecer.”
Da sanfona em Lagoa da Canoa ao jazz de Miles Davis
Nascido em 22 de junho de 1936, em Lagoa da Canoa, no Agreste de Alagoas, Hermeto aprendeu a tocar sanfona ainda criança. Albino de nascença, encontrou na música uma forma de enxergar o mundo de maneira singular. Passou por Recife e pelo Rio de Janeiro, até se consagrar como um dos maiores músicos brasileiros da história e do mundo.
Nos anos 1970, seu talento ultrapassou fronteiras ao lado de Miles Davis, que o definiu como “o músico mais impressionante do mundo”. Hermeto participou do disco Live-Evil (1970), assinando composições e improvisos que marcaram o jazz internacional.
Música universal e experimentalismo
Hermeto jamais se prendeu a convenções. Extraía música de tudo: chaleiras, brinquedos, água corrente, pássaros, rádios, além de instrumentos tradicionais. Sua obra é uma síntese de brasilidade e universalidade, cruzando forró, choro, jazz, música erudita e sons da natureza.
Entre seus álbuns mais marcantes estão Música Livre (1973), Slaves Mass (1977), Montreux Jazz Festival (1979) e Só Não Toca Quem Não Quer (1987). Sempre experimental, Hermeto defendia a música como expressão livre e como modo de transformar a realidade.
Legado e despedida
Compositor, multi-instrumentista, arranjador e improvisador, Hermeto influenciou gerações de músicos no Brasil e no mundo. Foi chamado de “O Bruxo” por sua capacidade de criar sonoridades inusitadas e de conduzir grupos com espontaneidade e rigor musical.
Na nota de despedida, a família pediu respeito e privacidade, informando que detalhes sobre homenagens públicas serão divulgados em breve.
“Quem desejar homenageá-lo, deixe soar uma nota no instrumento, na voz, na chaleira e ofereça ao universo. É assim que ele gostaria”, diz o comunicado.
Hermeto Pascoal parte, mas deixa ao Brasil e ao mundo uma lição permanente: a música está em toda parte, e a vida, como sua obra, deve ser vivida em improviso, intensidade e liberdade.